A mostra TOQUE mantém-se na estrada, cheia de significados! Para mim ela é como uma impressora xamânica, que salva da multidão os rostos que circulariam anônimos, indecifráveis, e os transforma de tal modo, que a partir da exposição, quem vê cara, passa a ver coração...
Fiquei tocada pelo conjunto da obra espalhado sobre as mesas, depois as obras agrupadas no chão. Era como se cada uma revelasse algo de mim. Não conseguia falar de minha obra sem me referir às que me causaram algum sentimento pelas fronteiras borradas...
Cris Lopes - coautora e articuladora de oficina de TOQUE na FUNARTE SP, comentando o processo da oficina
Como os seres humanos têm suas diferenças, em igual medida encontramos as semelhanças, pois somos, ao mesmo tempo, imperfeitos e harmônicos naquilo que temos de mais expressivo: nossos sentimentos. Eles aparecem nos autorretratos de uma maneira única: do jeito que as obras foram colocadas, temos a impressão de estar diante de uma cidade e suas construções. Cada 'rosto' poderia ser uma janela de um prédio. Estamos todos juntos, mas buscando algo diferente, mas que se expressa nos rostos. Os visitantes se relacionam com o que podem ver, como a raiva, a alegria, o pesar, a solidão, o amor, a quietude ou mesmo o silêncio. Outros, no entanto, sem a dádiva da luz, fazem a leitura por meio do toque. No entanto, todos se encontram nas expressões.
Participei da série de autorretratos durante a oficina que aconteceu em outubro de 2016, no Museu de Saúde Pública Emílio Ribas, em São Paulo. Foi um exercício raro, inquietante... De pronto me perguntei se haveria um espelho por perto para “tirar informações” sobre o rosto que eu queria reproduzir com papel e cola – o meu rosto. Mas o toque das minhas mãos era reticente, não era bom informante...
José Manoel Rodrigues- coautor de TOQUE
Fiquei tocada pelo conjunto da obra espalhado sobre as mesas, depois as obras agrupadas no chão. Era como se cada uma revelasse algo de mim. Não conseguia falar de minha obra sem me referir às que me causaram algum sentimento pelas fronteiras borradas...
Cris Lopes -
Como os seres humanos têm suas diferenças, em igual medida encontramos as semelhanças, pois somos, ao mesmo tempo, imperfeitos e harmônicos naquilo que temos de mais expressivo: nossos sentimentos. Eles aparecem nos autorretratos de uma maneira única: do jeito que as obras foram colocadas, temos a impressão de estar diante de uma cidade e suas construções. Cada 'rosto' poderia ser uma janela de um prédio. Estamos todos juntos, mas buscando algo diferente, mas que se expressa nos rostos. Os visitantes se relacionam com o que podem ver, como a raiva, a alegria, o pesar, a solidão, o amor, a quietude ou mesmo o silêncio. Outros, no entanto, sem a dádiva da luz, fazem a leitura por meio do toque. No entanto, todos se encontram nas expressões.
Regina de Sá - coautora de TOQUE
Participei da série de autorretratos durante a oficina que aconteceu em outubro de 2016, no Museu de Saúde Pública Emílio Ribas, em São Paulo. Foi um exercício raro, inquietante... De pronto me perguntei se haveria um espelho por perto para “tirar informações” sobre o rosto que eu queria reproduzir com papel e cola – o meu rosto. Mas o toque das minhas mãos era reticente, não era bom informante...
O autorretrato foi saindo sem uma descrição fidedigna do que
eu julgava encontrar. As mãos tateavam no rosto e outras, dentro de mim,
tateavam no escuro. De que recursos, afinal, eu poderia dispor para contar quem
sou eu? E fui percebendo o quanto dependemos das imagens que as lentes alheias
a nosso corpo fazem de nós.
Ao mesmo tempo, havia a relação com as pessoas ao redor, que
também faziam seus autorretratos, e algumas perguntavam às outras se realmente
pareciam com os rostos que iam modelando. Outras atentavam num olhar demorado
sobre o que tinham criado. Com o tempo, olhávamo-nos mutuamente, uns para os
rostos dos outros, buscando significados, mais do que semelhanças entre o real
e a “cópia”. Seria isso mesmo? Emoções são “significáveis”? Um estado
psicológico é assimilável pelo toque e depois pode ser transposto e lido no
rosto recriado pela arte?
Fiquei pensando também na multidão destes rostos, no que ela
pode expressar coletivamente diante do que nos afeta quando criamos sob esta
proposta do autorretrato. São tantas as variáveis nesse caso e ainda mais
difíceis de sondar, mesmo entendendo que o autorretrato deu, pelo menos para
mim, observações e detalhes que antes me escapavam diante das imagens
passageiras que não “me registram” (não me revelam) porque escorrem do
cotidiano, longe da pele, longe do toque.
José Manoel Rodrigues- coautor de TOQUE
Os participantes do projeto tem
uma experiência palpável, direta, de
autoconhecimento, muito além do "mirar-se no espelho". Ao construírem um alto-relevo de sua face,
vivenciam um momento único de percepção e de encontro consigo mesmos. A pessoa, que já tem uma imagem pré-concebida de si, tem que concretizá-la.
Em geral, percebe-se aí um conflito
entre o que se vê e sente, por um lado, e a representação, realizada através de
uma intensa experiência tátil, na qual as mãos dobram, amassam, comprimem a matéria, que se torna
singular nos diferentes autorretratos. Cada um busca, à sua maneira, construir traços marcantes que o identifiquem. Isso dá à instalação imensa riqueza de
formas, texturas, linhas.
É interessante observar o olhar
curioso, de surpresa, de muitos colaboradores do projeto, ao verem a instalação
montada: uma certa perplexidade, ao mesmo tempo em que buscam identificar seu
autorretrato em meio à uma tipologia
humana tão semelhante entre si, mas tão diversa também. Cria-se aí um novo jogo - entre o criador do fragmento
individual e o criador do conjunto coletivo.
Concomitantemente, ao passar pela
exposição Mais que Humanos - Arte no
Juquery, apresentada na sala ao
lado, sente-se a carga emocional contida nas peças. Cada criador representa com
materiais diferentes - pintura, argila - um pouco de seu universo imagético.
Porque não dizer: nessa mostra, cada peça constitui também um autorretrato,
simbólico. Descortina-se um outro jogo. Agora, entre dois conjuntos
diversos - TOQUE e Mais Que Humanos. Ambos nos falam da infinita capacidade do ser humano e de sua busca por satisfazer
necessidades vitais de expressão e comunicação com seu entorno, com seu
semelhante.
Lúcia Neto - coautora de TOQUE
Toque-me!
Ao entrar na sala, as paredes
tomadas estão por um painel branco, contínuo, como um mapa em relevo. Os
módulos quadrados que o compõe, após o primeiro impacto, se misturam em uma
geografia desconhecida e algo familiar. Mais de perto, revelam uma sucessão de
retratos sem que lhes sejam atribuídas as autorias. Rostos nos mais inusitados
ângulos, de gente que nunca pôs a mão na massa, de gente que nunca tirou a mão dela.
O resultado é de um lirismo arrebatador, de uma intensidade surpreendente.
E então estamos todos lá – os que
fizemos os autorretratos numa manhã no ateliê –, reunidos e à procura de nós
mesmos. E vamos atrás dos retratos dos outros, primeiro dos que conhecemos,
depois daqueles que nos surpreenderam, e aí notamos entre uns e outros
avizinhados uma curiosa relação de transição. Passamos a mão e sentimos as
texturas. A mágica se consuma, estamos tomados pela experiência. E saímos
vitalizados. Não sei o porquê da arte, mas sei o que me traz até ela.
Sergio Kon - coautor e articulador de oficina de TOQUE em seu atelier, São Paulo, SP
Participar do projeto “Toque” é
gratificante e estimulante. Realizar a peça com papel e cola, expressando o
autorretrato, é a marca da criação singular de cada participante. Da expressão
individual sendo exposta na construção do todo, pode-se perceber o “elo
humano”, que representa toda e qualquer comunidade, ou seja, transmite a
essência dos povos, sem preconceitos e distinção de raças.
A coordenação do projeto soube muito
bem propor, aliar e distribuir as peças no contexto compositivo, valorizando
cada obra em favor do conjunto. O projeto “Toque” representa a solidariedade, a
harmonia e o potencial humano. É um importante exemplo de apresentação estética
que surgiu da mais profunda reflexão de cada participante sobre si, para
representar a sociedade em que vivemos.
Paulo Cheida Sans - coautor e articulador de ficina de TOQUE - Grupo Olho Latino, Campinas, SP
Minha participação no projeto TOQUE foi muito rica e
compensadora. Para mim, como pessoa com mobilidade radicalmente reduzida, foi
um desafio produzir um objeto tridimensional. Diante dessa dificuldade, contei
com a ajuda de um aluno meu de arquitetura, Roberto Nepomuceno, que também realizou seu autorretrato para a
instalação. Pensamos numa construção em curvas de nível (sistema de
representação do espaço no plano, utilizado comumente em mapas). A partir de um
desenho, Roberto foi construindo uma imagem do meu rosto em níveis de altura
diferenciados. Outros alunos meus participaram também de TOQUE.
Achei o resultado muito interessante, pois me enxergo nele.
Além disso, valorizo a interação que
possibilitou a produção desse trabalho,
da mesma forma que valorizo outras interações artísticas, realizadas em
projetos anteriores, como VI(VER) Diálogo Gráfico (no qual dividi curadoria com
Hélio Schonmann e Francisco Maringelli). Nesse projeto, um grupo de colegas
desenhou comigo pessoas sem visão que
desejavam ser retratadas (trabalho exposto
no Museu Histórico e Cultural de Jundiaí, em 2014). Vejo no projeto TOQUE um caminho que pensa a diversidade e a
inclusão. Um caminho muito oportuno.
Paulo Pt Barreto - coautor e articulador de oficina de TOQUE no Centro Universitário SENAC, São Paulo, SP
A oficina de autorretratos do
projeto TOQUE, orientada por mim, no espaço Cecco Bacuri, foi especial. Houve uma participação contagiante.
Na visita que fizemos com o grupo à instalação montada no Museu Emílio
Ribas, o reconhecimento de cada trabalho
e a percepção da beleza do conjunto
trouxeram mais alegria ainda a seus autores.
Altina Felício - coautora e articuladora de oficina de TOQUE no CECCO - Centro de Convivência Cooperativa Eduardo Leite Bacuria - São Paulo, SP
Como uma folha em branco nos
dirigimos a uma aula diferente naquela manhã, tendo como expectativa receber
informações e transformá-las em aprendizados. No primeiro momento, ao
adentrarmos no espaço, com a obra TOQUE, fomos “tocados” por nossos múltiplos
sentidos.
Entramos numa sala branca cheia
de texturas nas paredes, a curiosidade nos tomou, bem como o desejo quase
irresistível de ir colocando as mãos.
As obras incrivelmente
sugestivas, nos convidavam à uma experimentação que vai além da contemplação
passiva, com seus relevos possibilitavam o sentir com o corpo, o tatear, um
vivenciar que vai além da análise cognitiva.
As variações de texturas, o conjunto das faces que se movimentam, tudo
causava calor e acolhimento.
Antes, porém, orientados pela professora
Lilian, tínhamos o convite de colocar as mãos no corpo do amigo ao nosso lado.
Uma vivência sensorial transferida para nossa psique estimulada manualmente.
- Que nervoso! Como se faz isso?
Colocar nossas mãos em outra pessoa?
Toque, me toque, te toco,
toquemo-nos... Nos alertou para uma experiência que parecia romper barreiras
entre as expressões e produções idealizadas por artistas e não artistas. Em
decorrência disso era válido reconhecê-las como obras de arte, ali presentes no
Emílio Ribas.
As múltiplas faces na parede, as
diferentes expressões, fazendo-nos lembrar de que somos um “multiverso” de
gente, biologicamente distintos, diversos por natureza, infinitamente diversos.
Ana Maria R. de C. Bertolini
Estelita Thiele
Fernando Alexandre
Mariana Ávila Dutra
Sandra Almeida Godinho
Alunos do programa de
pós-graduação do Instituto de Artes da UNESP – arte e terapias expressivas 2016
– Profª. Drª. Lilian Amaral e Profª. Mr. Vânia Rodrigues
Ao visitar a exposição TOQUE
pela primeira vez fiquei encantada em ver como a arte pode ser expressiva e
interativa, com o poder de tocar a alma. Ver cada rosto, cada expressão, ter a
possibilidade de me conectar com a obra através do toque, experenciando as
texturas e formatos foi muito enriquecedor.
Quando descobri que uma técnica
simples e de baixo custo poderia resultar em algo tão expressivo, logo pensei
nos usuários do CAPS onde trabalho e senti o desejo de aproximá-los desta
experiência também. A maioria das pessoas atendidas nunca foram ao museu por
exemplo, nem sequer conhecem outros lugares além Salto de Pirapora e as cidades
vizinhas. Além disto, o serviço é o responsável por cuidar de 40 pessoas
oriundas de longas internações psiquiátricas e o único contato que tiveram com
algum tipo de arte foi no hospital.
É importante destacar que o
município de Salto de Pirapora e região é alvo de intervenção dos governos
estadual e federal após denúncias de violação de direitos humanos em vários
hospitais psiquiátricos destas cidades. Após o termo de ajuste de conduta
definido com o município, foram inaugurados dois CAPS para atender os casos de
transtornos mentais, inclusive para apoiar e conduzir a reinserção das pessoas
desospitalizadas.
Diante deste contexto, tenho
buscado usar a arte nas atividades desenvolvidas no CAPS como instrumento de
liberdade, expressão e autoconhecimento. Por isso, iniciei com 6 destes
usuários a confecção de autorretratos, todos eles oriundos de longo período de
internação psiquiátrica e que vivem em residências terapêuticas atualmente. Os
encontros são realizados semanalmente, no período de 1 hora. Além da confecção
das máscaras, conversamos sobre o corpo, com suas cicatrizes e histórias.
Falamos de autocuidado, das descobertas trazidas pela experiência no “mundo de
fora”.
Foi realmente desafiador
iniciar o grupo e mantê-los conectados e envolvidos com a proposta. Todos eles
saíram recentemente do hospital e estão num processo de adaptação. Alterações
medicamentosas, gerenciamento do próprio dinheiro, sexualidade, família, a
descoberta da própria subjetividade, gostos e preferências, e o contato com a
própria história tem sido alguns dos desafios. Além do agravo cognitivo e
alterações de comportamento e pensamento decorrentes do quadro clínico de cada
um.
Fernanda Rodrigues Vieira - coatora e articuladora de oficina de TOQUE no Centro de Atenção Psicossocial II de Salto de
Pirapora, SP
A sala que expõe a mostra TOQUE pode parecer intimidadora ao
visitante, que até ao ler na entrada “por favor, toque”, ainda se sente tímido
em fazê-lo. Estimulamos o visitante a tocar; a interagir com a obra e consigo
mesmo, sentir-se e sentir. Neste exercício simples, notamos a profundidade de
um ato tão corriqueiro que muitas vezes nos passa despercebido: o toque.
Rodrigo Galvão - coautor
de TOQUE e educador do Museu Emílio Ribas
Na mostra Toque buscamos fazer com que os grupos refletissem
a partir da exploração sensorial sobre as suas identidades individual e
coletiva, bem como a respeito do estatuto da arte e do artista. O que nos
proporcionou diferentes momentos com os visitantes, que nos transportaram e
convidaram para as suas confissões, sensibilidades e intimidades. São sempre experiências
únicas e mágicas.
Yuri Pinto de Souza – coautor
de TOQUE e educador do Museu Emílio Ribas
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