sexta-feira, 9 de outubro de 2020

TOQUE NA OFICINA CULTURAL OSWALD DE ANDRADE - texto de Hélio Schonmann

A instalação TOQUE é obra em processo, unidade modular que se amolda à natureza de cada contexto expositivo. A mostra que ocupa a Oficina Cultural Oswald de Andrade acontece num delicado momento de distanciamento social e, por isso, o formato definido nesta edição é híbrido: uma exposição presencial instalada na nave central do edifício, associada a uma intervenção no espaço público e uma mostra virtual. Para além do espaço interno, onde se concentra a maior parte do acervo de autorretratos da instalação, o observador/passante encontrará uma sequência desses relevos no gradil de fachada, convidando ao toque; no tour virtual, poderá ver e sentir a totalidade do projeto, realizando percursos entre centenas de autoimagens. A mostra é resultado de uma trajetória que teve início em 2016, quando um conjunto inicial de autorretratos foi exposto no Museu de Saúde Pública Emílio Ribas, no mesmo bairro do Bom Retiro onde situa-se a Oficina Cultural Oswald de Andrade. O convite partiu da curadora educativa da exposição Mais Que Humanos. Arte no Juquery, Lilian Amaral, que visualizou estreito diálogo entre a instalação e o acervo do atelier criado por Osório Cesar, foco daquela mostra. Realizamos agora nossa sétima exposição. Os setenta e dois autorretratos iniciais apresentados em 2016 foram se multiplicando e hoje aproximam-se de trezentos. Essa escala quantitativa só é possível porque TOQUE vem sendo produzido através de uma rede de oficinas, contando com o apoio de instituições e ateliers espalhados por dez municípios paulistas – uma abrangência que enriquece muito nossa trajetória. O retorno ao território do Bom Retiro é novamente fruto da iniciativa de Lilian Amaral, que pensou um formato de exposição que amplificasse interlocuções com a rua e a esfera pública. Nosso processo intenso e extenso de construção colaborativa vem gerando diferentes respostas, tanto no plano subjetivo - de cada coautor, cada observador –, como no âmbito plástico-poético e também institucional, estimulando práticas de acessibilidade. Uma dessas respostas é a escultura apresentada na mostra atual: realizada a partir da somatória de moldagens de partes dos corpos de seus coautores - usuários do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) de Salto de Pirapora, SP - esse autorretrato corporal coletivo é resultado de uma iniciativa da terapeuta ocupacional Fernanda Rodrigues Vieira, em conjunto com seu grupo de atendidos. TOQUE é acervo vivo e processual de autorretratos de pessoas com e sem formação artística, videntes e pessoas sem visão, pacientes psiquiátricos, entre outros, representantes de um amplo espectro de sensibilidades reunidas em uma obra colaborativa e dialógica. Um projeto que focaliza temas como identidade, alteridade, integração, acessibilidade, relação individual/coletivo, diversidade e a própria natureza do fazer artístico. Convidamos o público a se aproximar desse conjunto poético plural, mergulhando num labirinto de semelhanças e de contrastes, estranhamentos e indagações sobre o que somos, em nossa grandeza e em nossa precariedade.

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